Quando se fala em combate à dengue, a primeira preocupação é estabelecer ações com a população que mora na periferia da cidade e principalmente em casas ou edificações baixas, por estarem mais vulneráveis à entrada do Aedes aegypti. Pouco se fala sobre a incidência de focos em condomínios com mais de cinco andares, para quem também serve o alerta, principalmente em tempos de epidemia.
Isto porque, tecnicamente, a área de voo do Aedes aegypti não abrange longas distâncias e não ultrapassa uma altura de três metros. Por isso, é comum ouvir que a fêmea do mosquito, responsável pela transmissão do zika vírus, dengue ou chikungunya, não chegaria aos apartamentos acima do quinto andar.
Baseada nesses fatos, a própria Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirma que os agentes vistoriam a área externa e interna dos condomínios e apenas os apartamentos dos andares iniciais ou do térreo, dependendo o caso, desprezando a possibilidade de focos nos andares mais altos.
Em tese, a informação é confirmada por técnicos de saúde. No entanto, em época de epidemia, são unânimes em ressaltar que os mesmos cuidados tomados por um morador de uma casa térrea também devem ser adotados pelos que residem em edifícios.
No próprio site da Fiocruz, há informações que desmentem o fato de que o mosquito não chega à alturas elevadas. Apesar de ser incomum encontrar focos nesses locais, segundo os especialistas da Fiocruz, os mosquitos pode se deslocar até mesmo se tiver alojado dentro de elevadores.
Como ele é capaz de realizar voos de até um quilômetro de distância do local onde seus ovos foram depositados, é possível, sim, que eles entrem em apartamentos localizados em andares altos.
Além disso, o infectologista Rivaldo Venâncio ressalta que, em tempos de epidemia, especialmente com as possíveis novas formas de transmissão do zika vírus, o lema de que todo cuidado é pouco deve ser adotado por moradores de todas as regiões, dos mais diferentes tipos de habitações.
“Se algum morador dos andares mais baixos se descuidar e deixar alguma vasilha tomar chuva na área de serviço, já é o suficiente para o mosquito se proliferar e, a partir daí, ir alcançando andares superiores”, explica. Também há o risco de pessoas entrarem no prédio com alguma planta ou objeto contendo água acumulada e levar para algum apartamento.
Armadilha – Ciente desses riscos, o engenheiro agrônomo Zeferino Braz decidiu copiar da internet um tipo de armadilha que captura a fêmea e garante que os ovos depositados por ela no artefato, mesmo após evoluírem até o nascimento do mosquito, não cheguem ao ambiente externo.
Morador no sétimo andar em um edifício que conta com 36 apartamentos e 12 pavimentos, localizado na Rua Amazonas, ele também diz que é remota a chance de um mosquito chegar tão alto. Porém, tem consciência de que não vale a pena arriscar em época de epidemia. “Se o poder público ensinasse toda família a produzir essa armadilha, o problema acabaria. Não adianta ficar só jogando veneno e eliminando criadouros, tem que ter outras ações complementares”, acredita.
Apesar de ter a eficiência questionada por alguns técnicos, o engenheiro atesta que ela surte efeito e acredita que, somada a limpeza do ambiente, pode ser a solução para o fim da epidemia. Econômica, ele diz que tem distribuído a armadilha em todos os assentamentos em que trabalha e ensinado amigos e familiares.
O artefato consiste em cortar ao meio uma garrafa pet e colocar água com dois grãos de arroz amassados no fundo. Na boca da garrafa, onde fica a tampa, ele coloca uma tela e encaixa o gargalo de cabeça para baixo no fundo da garrafa, vedando o meio com fita isolante.
“O mosquito é atraído pelo gás carbônico exalado pelo arroz e entra na armadilha, depoisitando os ovos na parte superior, que deve ficar levemente em contato com a água. Uma vez que eles escorregam para o fundo, se transformam em larvas, mas quando viram mosquitos, eles não conseguem sair devido a tela”, explica.
Segundo ele, o artefato durar até um ano e pode ser colocado em vários ambientes. No prédio em que mora, o próprio zelador chegou a contrair dengue, por isso uma das armadilhas foi colocada na guarita onde ele trabalha.
Vizinhos com mato – Outra preocupação de quem mora nas alturas é quanto aos terrenos baldios e sem manutenção localizados ao lado de muitos condomínios da Capital, principalmente em áreas onde ainda não há muitas construções.
Esse temor é enfrentado por moradores de um condomínio no Carandá Bosque, localizado na Rua Nelly Martins. Segundo a jornalista Evelise Couto, que mora no 11º, ao lado do condomínio há um terrenos com mato alto que vem preocupando os moradores.
“Mesmo sabendo que quem mora em casa está mais suscetível, nós temos que nos preocupar porque qualquer recipiente com água pode significar perigo”, ressalta.
Síndico do condomínio, que tem 144 apartamentos e média de 360 moradores, Marcelo Duailibi diz que já entrou em contato com a prefeitura para resolver a questão do terreno e revela que está mobilizando os condôminos no sentido de alertar sobre os riscos e formas de prevenir a proliferação do mosquito.
“Vamos chamar um técnico para tirar dúvidas e falar sobre o Aedes”, ressalta. No entanto, ele diz que os funcionários são orientados a manter as áreas externas do prédio sempre limpas, observando qualquer situação que possa acumular água. “Temos muitas crianças no prédio e todo cuidado é pouco”, afirma.
Ele diz que uma das ações foi encurtar de seis, para três meses os períodos de dedetização e que o condomínio já recebeu a visita de agentes, que atestaram a ausência de focos.
Já a estudante Ana Carolina Viafora Ramos, que mora com o irmão e a mãe no oitavo andar de um prédio na região do Jardim dos Estados, diz que a incidência de mosquitos no seu bairro é baixa, mas com a epidemia de dengue, procura ficar atenta a vasilhas que possam acumular água na área de serviço. “Nunca ficamos doentes e os funcionários do prédio estão sempre cuidado as dependências, mas nem por isso devemos descuidar”, ensina.
Texto extraído de Campo Grande News
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